Por diversas vezes acordei em sobressalto, atropelado pelo som esmagador de trânsito do comboio. A cada passagem, o "gentil" maquinista fazia questão de soar a sirene, como se o barulho titânico da composição não fosse suficiente para despertar o mais profundo dos comas... o reboliço era de tal ordem que parecia que me ia passar por cima.
E enquanto não passava o comboio, o silêncio era violado pela algazarra ensurdecedora de porcos em arrojado acto sexual. O ruído era de tal forma intenso que estava genuinamente convencido que se tratavam de cavalos a relinchar a meio metro da tenda! Não sabia bem onde estava...
Eis que, enfim, regressa a luz do dia. Saí para fora da tenda para me aperceber da localização do acampamento. Estava a cerca de 10 metros da linha e a uns 200 metros duma pocilga... estava tudo explicado.



Para despertar a coluna, nada melhor que umas trialeiras pela manhã. O Fernando pensou em tudo! ;)
O andamento era pacífico e permitia disfrutar do magnífico cenário que nos envolvia. Apesar das óbvias semelhanças ao ambiente alentejano, conseguia sentir ali uma amplitude de espaços inexistente no Alentejo.
A presença da fauna carasterística era constante. Felizmente, o contacto era apenas visual! ;) O gado bravo observava a nossa passagem com desconfiança e parecia de facto merecer prudência na aproximação e manter uma certa distância de segurança!

A coluna progredia moderadamente sobre piso muito seco e pedregoso. Pouco antes de chegarmos a Jerez de los Caballeros ocorreu o primeiro azar. O colega da LC8, que seguia atrás de mim, caiu numa rara passagem lamacenta e magoou-se no joelho.

As quase 3 horas passadas na vila, forçaram-nos a dividir a comitiva para recuperar do atraso. "Los portugueses" formaram um grupo! =)
A partir desse momento o ritmo da progressão aumentou consideravelmente e sentíamo-nos mais livres, mais envoltos pelo ambiente. Circular num grupo coeso de 15 motos é radicalmente diferente de integrar um grupo de apenas 3 máquinas: aumenta o espaço, alonga a comitiva, aumenta a liberdade.

Apesar do aumento do ritmo de progressão, as frequentes pausas para absorver todo aquele esplêndor, e captar umas fotos, ditaram que o tempo disponível não fosse suficiente. Já o sol se tinha escondido e nós estávamos ainda a cerca de 25Km de Alburquerque, talvez 40Km pela ruta.
Chegámos às margens do Gévora, exactamente sobre a fronteira portuguesa, sobre campos de pasto alto por onde não divisávamos caminho. Tentámos durante algum tempo descobrir uma passagem pelo rio, mas a escuridão não dava tréguas e o avanço sobre terreno totalmente oculto pelo pasto representava um risco acrescido à segurança.
Pelo meio da erva alta, surgiu-me o abismo. Deparei-me a meio metro de me lançar dum penhasco de 3 metros sobre as àguas do rio.
Entretanto o Fernando contactou-nos. Tinham retomado o asfalto quando a noite caiu e já estavam em Alburquerque, num castelo isolado. Não valia a pena andarmos às voltas no bréu.

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