quarta-feira, abril 05, 2006

De Regresso a África...

Faltam 10 dias... já faltou mais! ;)
Finalmente, regressarei a África, ao reino marroquino e ao deserto...
Um deserto de pedra e pó, de pistas pouco frequentadas, de aldeias menos visitadas e de berbéres. A areia neste deserto é pouca, pois nem só de areia vive um deserto!
Desertarei também da relativa abundância, do sempre presente (des)conforto, das facilidades e comodidades da selva urbana... mas também da constante routina, prisão, monotonia e atrofia mental que ela nos cobra. Um preço demasiado alto...

Seremos quatro ou cinco, talvez seis ou sete durante algum tempo... mas isso não importa nem incomoda, pois o importante para mim é partir.
Eu sou solitário por natureza; gosto de ser auto-suficiente e de enfrentar sozinho as dificuldades e condicionantes de uma viagem. A isso dou preferência, sempre que posso. A companhia isola-nos de estranhos e improvisos.
Por mais que se tente evitar esse isolamento , é inevitável que ele ocorra. Um grupo é sempre um isolante eficaz ao meio. Apenas a solo deixamos realmente tudo para trás e nos expomos ao mundo e às pessoas. Essa é, para mim, a essência de viajar: a aprendizagem pela exposição e pelo improviso e o enriquecimento pelo experiência.
No entanto, de forma alguma esse sentimento constituirá impedimento. Ter companhia não me incomoda nem facilmente me distrai. Viajar em grupo tem as suas desvantagens... mas também proporciona vantagens. Torna-nos mais autónomos, podemos ir mais longe e com mais segurança, podemos ousar mais e arriscar menos. Juntos, somos como um farol que nos impede de naufragar.

À frente da pequena coluna brilha a luz da inestimável experiência de um homem habituado a estas andaças. O Quim, como lhe chamamos, o Guru. Antecipo com expectativa a oportunidade de partilhar da sua companhia, e quem sabe de um pouco da sua sabedoria. Com a mesma expectativa aguardo também as muitas lições que tenho para aprender. Já falta pouco...

Concretizaremos, por coincidência, a rota geral que havia delineado aquanto da minha anterior, e primeira, incursão em Marrocos. Isso, e muito mais. Não foi possível na altura, será incontornável agora.
A entrada no continente africano dará ínicio à odisseia por todo-o-terreno que nos levará em direcção a Este, até junto da fronteira argelina. Depois a Sul, junto à fronteira pelo planalto de Rekkam, até corrigirmos o azimute a Sudoeste.
Revisitaremos o Erg Chebbi onde enfrentaremos grande parte da pouca areia que a viagem nos reserva. Espero atravessar o Erg Chebbi a azimute. Espero dormir, mais uma vez, à sombra da Grand Dune. Sonho...
Depois, seguiremos por pistas pedregosas ao longo de oueds até ao Lac Iriki, e continuaremos pelo vale do Draa até ao extremo sul marroquino e à "virtual" fronteira com o Sahara Ocidental.
Não existe, mas para mim está lá: eu reconheço o SO.
Smara, a capital saharawi ocupada, espera-nos no calor do deserto. Será difícil chegar até aqui e não continuar mais para Sul. O apelo da vastidão desértica far-se-á sentir tremendamente e, dali até Dhakla, somos só nós e o deserto. Não temos condições logísticas de responder ao chamamento. São necessários 80 litros de combustível por moto, demasiado para a capacidade de autonomia que possuímos. Terá, infelizmente, de ficar para outra oportunidade...
Deixaremos Smara e o Sul, rumaremos a Noroeste até ao Atlântico e, pela costa, seguiremos para Norte. Portugal será já, por esta altura, o azimute da viagem e as sementes da saudade do deserto já estarão novamente semeadas...

Ao Tiago, precursor desta viagem, juntam-se o Quim, o Alex (que certamente levará a Dra Rute à pendura :) ), o Ricardo e eu. Parcialmente, contaremos também com a agradável companhia do Luís Ferreira, do Bruno Valadas e do Luís Jacinto. Parece-me um grupo bastante homogéneo.

Durante as magras três semanas que dispomos, queremos mergulhar na liberdade dos grandes espaços, na genuinidade das gentes, nos sorrisos das crianças, na secura do deserto de pedra e pó e num horizonte cada vez mais amplo de longas pistas isoladas...

Inch'Allah todos voltemos bem. Já faltou mais!...


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