Arrumámos o material e dirigímo-nos para Torres de Alcalá em busca do chá da manhã.



Estávamos perante o terminus da pista. Acabava numa trialeira, severamente degradada pelas chuvas e de acentuada inclinação, que ziguezagueava pela encosta abaixo até à praia. Percorri com o Quim, a pé, parte da trialeira para aferirmos da sua exequibilidade. "A furguneta passava! Uma roda aqui, outra ali..." - dizia. Mas decidimos não correr o risco. Os rasgos longitudinais profundos no pisco facilmente trancariam as rodas e mandariam-nos, com as motos pesadas, pela ribanceira abaixo.
Voltámos para trás até Torres, em busca de caminho para chegar aquela praia idílica. Percorremos pela estrada alguns quilómetros para Este em busca de alternativa. E não foi fácil encontrá-la. Por algumas horas, tentámos sem sucesso praticamente todas as pistas que divergiam em direcção ao mar.

Regressámos à estrada e continuámos na senda daquela praia. Alguns quilómetros adiante encontrámos finalmente a pista que nos levaria até lá.


Num canto, junto ao Penón, uma pequeníssima ponte transpunha uma vala transversalmente escavada na areia. Ridiculamente, constituia a fronteira. Os quatro marcos brancos, dois em cada margem, exibiam tatuados as bandeiras da soberania em vigor.
Aproximei-me com a camara discretamente, pois estou bem consciente das sensibilidades marroquinas em questões militares e fronteiriças, mas duas dezenas de metros antes de alcançar a ponte o militar, que me observava com olhar de falcão, deu-me finalmente ordem de recúo.
Aproveitámos a espectacularidade e sossego do local para almoçar. Aqueci uma lata de feijão frade que acompanhei com atum.

O Rif revelava-se cada vez mais luxuriante à medida que nos aproximávamos da localidade de Rouadi. Ao contrário do panorama que a rodeia, a localidade é totalmente desinteressante e partimos de imediato.
Estávamos agora a seguir uma rota do Gandini que terminava junto de Al Hoceima.

A cor da terra variava brusca e constantemente. Ao tom vermelho alaranjado, sucedia-se o lilás, violáceo, amarelado... uma paleta de cores garridas que desafiava a imaginação.



A poucos quilómetros de Al Hoceima o Tiago, que se queixava regularmente do estado da direcção, verificou que não tinha condições de prosseguir e decidiu que tinha de tratar do problema. Combinámos instalar-nos no camping e ele prosseguiu para a cidade. Nós continuámos pela magnífica rota do Gandini até ao fim, numa praia próxima de Al Hoceima.

Chegámos ao camping e já o Tiago tinha a suspensão da frente espalhada pelo chão. Formalizámos a nossa presença e, com uma certa dificuldade, reconstruimos a moto :) e montámos as tendas. O chão era autêntica pedra e só com a ajuda de calhaus consegui erguer o alojamento.

Eu dividi uma lata de salsichas com o Tiago e matámos o resto do serão à conversa.
O DJ do restaurante-bar lá sossegou finalmente e acabámos por ir todos descansar.
Amanhã deixamos o Rif. Fica-me na memória como um lugar indiscritível. Uma daquelas raras regiões onde, quando pensamos que já vimos de tudo e do melhor, o dobrar de um novo cume ou o contornar de uma nova colina nos revela a mais surpreendente das panorâmicas.
Merece, por si só, uma viagem dedicada de aventura e descoberta pois, se o fugaz olhar passageiro de um transeunte desvenda tanto pormenor e riqueza, que maravilhas ocultas ficaram por revelar?
Percurso do dia
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