quarta-feira, maio 18, 2005

Dia 14: De Barcelona a Lisboa

Acordei por volta das 10:00. O dia estava radiante, contrariando as previsões pessimistas adiantadas pelo guarda do parque na noite anterior. O material teve oportunidade de secar e avizinhava-se um excelente dia para andar de moto, desta feita com os pés enchutos!
Arrumei o material nas calmas e pelas 11:30 estava a sair do parque.
Dirigi-me então para o centro de Barcelona para dar uma vista de olhos ao local. As avenidas da cidade pareceram-me familiares mas o trânsito desmotivou-me a continuar o passeio. Passagem pela "Sagrada Familia" apenas para constactar que se encontra em obras de restauração. Fica para uma próxima oportunidade.
Por volta das 14:00 já tinha deixado Barcelona para trás e estava a caminho de Madrid. O plano era passar a última noite desta viagem nos arredores da capital.
Fiz "escala" em Zaragoça para traçar uma sandocha e segui caminho. A viagem foi monótona e pobre de acontecimentos e foi já perto de Madrid que a coisa animou um pouco mais.
Com grande parte dos acessos condicionados, seja por obras ou por intermináveis filas de trânsito, decidi "desviar-me" da capital por uma circular mais externa.
Para mal dos meus pecados, também aqui a coisa não estava melhor. Acabei por apanhar a "discreta" boleia duma ambulância e fiz mais de 15Km bem juntinho a ela pelas bermas e pelo meio das filas de "enlatados"! A ajuda foi preciosa e em menos de 30min estava no outro lado da cidade!
Eram quase 20:00 e já há algumas horas que vinha a matutar a possibilidade de seguir marcha até Lisboa. Mais de 600Km depois de sair de Barcelona, avaliei a minha condição mental, depois a física, e decidi enfrentar os restantes 600 e poucos que faltavam para o fim das férias!
Pelos meus cálculos chegaria a Lisboa por volta das 0:30(fuso excluído). Avante!
O resto da estória foi igual a tantas outras: Madrid, Badajoz, Montemor, Montijo, Lisboa.
Devo dizer que cheguei a casa MORTO. A minha rectaguarda nunca tinha levado tamanho castigo, nem nos tempos do "chinelo e colher de pau"!
Fica aqui o percurso...
Mas valeu a pena e não hesitarei em repetir a dose! E quanto mais cedo, melhor!

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terça-feira, maio 17, 2005

Dia 13: De Carcassonne a Barcelona

Já passavam das 10:00 quando acordei com o ruído da chuva sobre a tenda. O tempo estava péssimo e não apresentava qualquer sinal de melhora nas próximas horas. Resolvi esquecer La Cité, fazer malas e partir. Em pouco menos duma hora tinha tudo arrumado (encharcado) e estava a caminho dos Pirinéus: Andorra era o destino óbvio. Sempre debaixo de forte temporal, os cerca de 200Km até Andorra pareciam suficientes para preencher o dia. O plano era acampar lá um par de dias e apreciar o cenário. A chuva intensa, aliada ao vento forte, tinha encontrado o caminho para o interior das botas, de tal forma que tinha os pés já bastante encharcados.
Por volta das 13:00 já estava a subir a cadeia montanhosa em direcção a Pas de la Casa. O tempo mantinha-se chuvoso e ventoso, agora com a agravante da descida de temperatura que se precipitava à medida que ganhava altitude. À passagem pelos 1500m, o gelo cobria já a estrada e a vegetação circundante. A progressão exigia ser lenta e cuidadosa. A passagem pelos 1700m foi ja debaixo de intenso nevão, com a visibilidade a reduzir drasticamente. As botas e luvas encharcadas propiciavam a passagem do frio ao corpo e não demorou muito até os pés e as mãos gelarem, ao ponto de começar a sentir dores! Ansiava por chegar a Pas para poder, finalmente, trocar de meias...
Foram penosas as dezenas de minutos que demorei a alcançar os 2000m e chegar a Pas. A neve caía “torrencialmente” e a cidade estava envolta num manto branco. Não me demorei muito com “saudações” e dirigi-me a uma loja em busca de peúgas secas!
Após uma refeição quente e uma voltinha consumista pela cidade, resolvi descer a altitudes mais baixas na tentativa de encontrar tempo mais adequado ao campismo. Acabei por atravessar Andorra nestas condições e, a partir de la Vella, a neve deu novamente lugar à chuva, que me acompanhou até Espanha. As peúgas “secas” já estavam também elas encharcadas e, já com os Pirinéus como pano de fundo, decidi prosseguir viagem até Barcelona em busca de paragens mais amenas para poder montar arraial e secar os pertences.
A sul dos Pirinéus

Com o itinerário escolhido de forma a evitar as portagens, acabei por “navegar” novamente montanha acima e dei comigo a mais de 1700m de altitude, com temperaturas negativas (a julgar pelo gelo na estrada e encostas), com 45Km de alta montanha pela frente, já depois das 18:30!
O cenário tinha tanto de beleza como o percurso tinha de ameaçador. Avizinhava-se um “contra-relogio” pelas estradas sinuosas e geladas da montanha, com temperaturas negativas, com os pés e mãos encharcados, para procurar escapar à noite naquela altitude.
O que se seguiu não procurarei descrever. A experiência deve ser vivida na primeira pessoa, de preferência acompanhada...
Pelas estradas dos Pirinéus

As condições descritas não permitiram que alcançasse o fim da montanha antes das 20:00. Depois bastaram mais 2 horas de autovia até montar a tenda ensopada, e estender as peúgas todas, em Barcelona à beira do Mediterrâneo...
Camping em Barcelona

O serão fez-se a reviver os momentos difíceis do dia mais duro da viagem, desta vez com um sorriso mais rasgado nos labios!

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segunda-feira, maio 16, 2005

Dia 12: Da Riviera a Carcassonne

Alvorada às 10:00. Fim da melhor noite de sono até ao momento. Rapidamente abandonei a "Holanda" (eram a grande maioria) e puz-me a caminho de Saint Tropez. Foi o cabo dos trabalhos para lá chegar. A ùnica estrada de acesso estava, como já esperava, completamente entupida nos dois sentidos! A fila atingia claramente os 10km! Lá fui seguindo a custo pela linha central, com paragem numa boulangerie para comprar pão fresco. Hummm!
Esta pequena vila vive em torno do porto. Não consigo imaginar como consegue albergar tanto trânsito.
A segunda é dia de mercado em praticamente todas as vilas e aqui não fugia à regra. Uma "visita" rapida pelas ruas apertadas e porto lotado de iates de luxo e não consegui perceber o que atrai tanta gente a este local. Não deixa de ter o seu encanto, mas com as ofuscantes Cannes e Mónaco ali ao lado, a beleza relativa é inferior. Talvez venham em busca do fantasma da Brigitte Bardot...
Rápidamente retornei a oeste, próximo à linha costeira, até Toulon e depois enveredei por caminhos mais discretos até aos arrabaldes de Marselha. Não senti qualquer tentação em "reconhecer" esta cidade. Segundo me tem constado não há lá nada para mim e a vontade de progredir fez-me evitar entrar na metrópole congestionada...
Segui sem olhar para os lados até Montpellier. Não fiz caso da cidade e atravessei-a num piscar de olhos. O meu destino já estava traçado e o tempo esgotava-se depressa.
Pelas 18:30 e quase 500km depois alcancei, finalmente, Carcassonne! As muralhas do castelo, La Cité, são realmente bonitas e o restauro efectuado preservou a sua genuínidade. Com o espirito adequado, o efeito de "máquina do tempo" faz-nos regressar à idade mediaval.
Já com a casa montada, fui até à vila baixa (fora das muralhas) em busca de jantar. Optei por uma refeição tipicamente francesa: McNuggets...
Amanhã aguardam-me menos de 200km até Andorra, pelo que aproveitarei a manhã para dar mais atenção a La Cité e aos seus recantos pedonais.

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domingo, maio 15, 2005

Dia 11: Pela costa da Riviera

Deixei San Remo para trás já passavam das 9:00. Descontraidamente segui pela marginal ao longo da Cote d'Azur e poucos km depois alcançava o lado francês da Riviera. Primeiro Menton logo seguido pelo Mónaco.
Baía de Menton



Mónaco

Já começo a ficar habituado às agradáveis coíncidencias e este dia também não foi excepção: GP do Mónaco no próximo fim de semana. Posso garantir, por experiência pessoal, que o circo já está práticamente montado e pronto para receber os artistas. Não podia deixar de dar a "voltinha de aquecimento" à pista e só não tirei fotinha à @ na "pole" porque a avenida estava movimentada e a segurança está apertada na zona do circuito!
Túnel no Mónaco

No porto da cidade não cabia mais um bote...os enormes iates e veleiros lotam a marina com suptuosidade. Estava de facto a cirandar num nicho dos mais ricos deste planeta. Com o meu aspecto nomádico não pude deixar de dar nas vistas...terão os "condes" pensado que me teria enganado na rota, a caminho da Etiópia! Não gosto de estar onde não me sinto discreto. Isto nunca será para mim...
Mais alguns kms no principado, entre ruas estreitas ladeadas de enormes chalés, e segui marcha para Nice.
O cenário opulento repete-se interminavelmente ao longo de toda a linha costeira. O calor aperta já por estas paragens e a "alta-sociedade" europeia já enche as ruas e esplanadas desta região.
A progressão era lenta e sinuosa, tal a quantidade de Rolls Royce, ferrari, Bentley, Porche e Lamborguini que congestionavam as marginais. Nestas condições "difíceis" todo o cuidado é pouco! Duas malas laterais de alumínio fazem riscos e qualquer um deles poderia ditar a venda de todos os meus pertences, se chegasse, só para compensar os estragos aos "pobres" lesados...
Passei por Nice com velocidade suficiente para vislumbrar uma "Beverly Hills" europeia. Os hotéis de luxo sucedem-se na linha costeira e os verdadeiros navios de recreio lotam as marinas. Senti, particularmente, pena de um senhor que almoçava no convés de um veleiro com cerca de 16m. Deverá sentir-se inferiorizado por ter o "barquinho" mais pequeno da baía...
Parei numa praia extensa logo à saída de Nice para comer uma sandocha. O areal, se é que assim o posso chamar, é basicamente um "pedregal". Calhaus do tamanho de bolas de ténis compõem a praia onde os muitos turistas absorviam cada raio de sol. Não admira que levem cadeiras para se estender!
Mais alguns kms e cheguei a Cannes. A mundialmente famosa cidade estava ao rubro e ,sem saber, "aterrei" na parada das vedetas. Só me apercebi do evento quando me cruzei com um Bentley onde seguia um tal de Nicolas Cage...
Apanhei a semana do festival a meio e Cannes está completamente infestada de vedetas, fanáticos, paparazzis, turistas e curiosos...
Atravessar a marginal, em frente dos hoteis onde centenas de fans aguardaram as movimentações dos famosos, e com o Palais du Festival apinhado de gente, uma verdadeira loucura.
Palais du Festival em Cannes

Neste pára-arranca, a burra aquecia de forma nunca vista e o calor era já insuportavel. A curiosidade crescia e decidi procurar abrigo nos arredores, tirar as malas da moto e regressar para mergulhar nesta febre cinematográfica.
Herbie

Encontrei um camping decente (leia-se barato) numa zona calma já a 35km a sudoeste de Cannes, perto de St. Raphael. Montei o arraial e regressei a Cannes já perto das 15:30. O cenário tinha piorado consideravelmente. Aproximara-se a hora do desfile das vedetas e um troço da marginal estava condicionado. A fila de trânsito nos acessos atingia kms mas, com a burra mais "magra", era canja circular por entre as filas. Perto do "hot spot" estacionei e segui a multidão a pé.
Boulevard de Cannes



Nos passeios artistas de rua de todos os tipos animavam ainda mais as hostes. Definitivamente, esta cidade está em festa rija! Por todo o lado se respira cinema e "glamour", seja lá o que isso for...
Para um matarruano como eu, toda esta animação era intimidante. Seria um local agradável para juntar um grupo de amigos, mas sozinho intimidava...
Tive ainda tempo para ver passar a senhora Uma Thurner e mais um escurinho conhecido duma seríe policial. Decidi abandonar a zona mais apinhada para comer qualquer coisa e, por sorte, um McDonalds surgiu logo ali na esquina. Digo que foi sorte porque estou na Cote d'Azur! Qualquer sandes num snack-bar mais rasca custa tanto como o menu completo do Mcdonalds...
Comi com vontade e regressei para "casa".
Nao ha adjectivos para caracterizar esta região. Infelizmente, também não há dinheiro para a considerar um destino de férias. É apenas o playground dos abastados e local de passagem (rápida, de preferência) de curiosos.
Amanhã é dia de abandonar a Riviera e seguir para Oeste. O meu Portugal vai ficando cada vez mais perto.

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sábado, maio 14, 2005

Dia 10: De Chamonix à Riviera

Acordei já passavam as 9:00. Levantei-me com sacrifício apenas para descobrir um tempo cinzento lá fora. Parecia que os Alpes se queriam despedir de mim com lágrimas :)
Depois de ir buscar o "cacete" encomendado na noite anterior (engraçado como os franceses, tão asseados em praticamente tudo, comercializam o pão de mão em mão e sem protecção pelas ruas...como se se tratata-se de um pacote de leite! É certo que as ruas estão imaculadamente limpas e os monsieurs e madames se lavam bem, mas ainda assim...). Arrumei o material, despedi-me do anfitrião e fiz-me à estrada.
Eram 10:30 estava às portas do túnel do Mont Blanc. Alguns minutos e 17.50€ depois, e percorria os mais de 12km de túnel que dão acesso a Itália.
Pelos Alpes italianos

Já em terras transalpinas, seguiu-se mais uma sequência interminável de túneis até que, por fim, alcancei o Vale d'Aosta. Segui por estradas secundárias até Turim, sempre debaixo de chuva e nevoeiro cerrado. Daí em frente as estradas de montanha, extremamente acidentadas sempre em curva/contra curva fechadas, garantiram que cada km parecesse infinito. A progressão neste tipo de estrada estreita e sinuosa, com piso molhado e visibilidade na ordem dos 50m, era difícil e cansativa.
Tentei navegar, na medida do possivel, em direccao ao sul e foi já perto das 18:00 que vislumbrei o Mediterrâneo. Como por artes mágicas, toda a nebulosidade e chuva "esfumaram-se" subitamente. No céu brilhava um sol de agosto e o frio que me acompanhou durante mais de 7h ao guiador rapidamente deu lugar a temperaturas já acima dos 20°.
Passei por Imperia onde enveredei pela marginal. A fome à muito que tinha dado lugar ao cansaço e foi já perto da exaustão que cheguei a San Remo. Cruzei a marginal da cidade e encostei à beira mar para finalmente comer uma sandocha de atum (sim ATUM! Como na faina!...).
Dez minutos, um ferrari e um Rolls Royce depois decidi, em muito boa hora, ficar por aqui com a @ esta noite. Já tinha visto um camping à beira mar mesmo à saída da cidade e refiz com renovada energia os escassos 2km que me separavam dele. Novo recorde para "o camping mais caro": 17€/noite. Conseguiu bater Paris! Não pensei que fosse possível...Welcome to Riviera!
Instalei-me e fui dar uma voltinha à cidade. Lembro-me do que disse dos condutores de Paris...pois entao: nós estamos para os parisienses como estes estão para os italianos.
Começo a pensar se os sinais de trânsito não terão diferente significado por estas bandas...duplo traço contínuo será "obrigatório ultrapassar"? E semáforo vermelho será "avancar se não vier ninguém"? Enfim, se fosse esporadicamente atá parecia o nosso país...mas por aqui parece ser regra, principalmente para as scooters! Deverão ser diferenças subtis no código da estrada...
Após passar num supermercado, voltei ao camping para finalmente saciar a fome e recarregar baterias para a etapa seguinte que será, faço questão, bem mais curta e descontraída.
Reflexão política (não ler): das mais óbvias constatações, que tenho feito ao longo destas viagens, é o nosso afastamento daquilo que é cada vez mais o padrão social europeu. Existe uma clara semelhança transfronteiríça, nos países do bloco central (Franca, Benelux, Alemanha, Suíça e Itália) no que diz respeito ao nível de estruturas e equipamentos sociais, reflexo da pujança económica, que se traduzem na qualidade de vida dos povos. Pode-se dizer que, à parte das distintas características arquitectónicas e culturais, a Europa tem convergido aqui de uma forma evidente, numa fusão cultural e social que definitivamente demoliu fronteiras.
Podemos justamente apontar o nosso isolamento geográfico ou até lamentar não termos melhor vizinhança (pois a Espanha também sofre um pouco disto, embora em muitíssimo menor escala), mas o que não podemos fazer é ignorar este fenómeno europeu. Quando em Portugal se fala de convergência, ao português vem logo à memória a questão salarial. Esse não me parece o factor fundamental. É importante, mas não é fundamental. Os salários aumentarão naturalmente quando a economia evoluir mas, para isso acontecer, o país carece de uma reforma profunda de todo o sistema económico, social e político, mas acima de tudo cultural. Isso tem sido repetido sucessivamente pelos governos nas décadas recentes, mas todos tem sido demasiado medíocres e cobardes para a por em prática. Os maiores obstáculos nem parecem ser as distâncias ao coração europeu, parecem sim ser a visão curta dos nossos governantes, que governam a pensar nas eleições seguintes, sejam elas legislativas, autárquicas, europeias ou presidenciais (de forma a maximizar o número de "jobs for the boys") e a nossa ansiedade descontrolada por resultados imediatos.
Jamais chegaremos a este nível com políticas econónicas a 2 anos, com mudanças de rumo constantes, com governos alternados à esquerda e direita que constantemente cancelam as pseudo-reformas em curso para implementar outras idênticas. Tudo isto signica tempo perdido às voltas do nada, enquanto os restantes membros isolam na frente do pelotão. O sacrifício terá de ser bem maior. A fasquia tem de ser elevada. Não chega crescer ao ritmo europeu, temos de crescer bem mais! São já 20 anos de atraso para recuperar embora, sinceramente e a esta distância, me parecam muitos mais...
Entre a década de 40 e meio da decada de 80, Portugal parou no tempo. Os governos maioritarios do Prof. Cavaco Silva, aproveitando a adesao a CEE e os apoios subsequentes, conseguiram impulsionar a economia como nunca antes. Foram 8 anos em que muito foi feito e cujos efeitos se propagaram ate ao final da decada de 90. O chamado "estado de graca" do Eng. Guterres foi consequencia da sua clarividência em "deixar andar" as politicas e obras cavaquistas. Infelizmente foi só isso que fez, manteve a inércia e deixou o país abrandar de tal forma que, com a crise económica mundial do princípio desta decada, não só parou como visivelmente regrediu.
É muito difícil empurrar um carro numa subida quando se deixou o motor "morrer" na descida.
Quem manda em Portugal continuam a ser os senhores da ditadura e da revolução. Cabe à próxima geração de políticos uma tarefa bem mais difícil, mas grandiosa e compensadora se alcançada: colocar Portugal mais perto do coração da Europa, e a Europa no coração dos portugueses.

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sexta-feira, maio 13, 2005

Dia 9: Pelas encostas do Mont Blanc

Acordei contrariado, como é costume, mas o calor na tenda deixada adivinhar uma manhã radiante lá fora. Saltei num àpice para a rua só para me dislumbrar com o cenário idílico prometido pela anfitriã na noite anterior. Mas que vista!
Alvorada no vale de Chamonix



Às 9:00 já estava a caminho do "cable car" que me levaria até uns inéditos 3804m de altitude: Auguille de Midi.
Auguille de Midi

A panorâmica dali é indiscritível. Aos pés do Mont Blanc, com vista privilegiada sobre a cadeia alpina, facilmente se esquecem os 35€ da boleia para o local!
Eu...

...e o Mont Blanc

Fiquei por lá umas boas 3h e tal, entre fotos e bolas de neve, tempo mais que suficiente para apanhar o primeiro escaldão de alta montanha.
Picos alpinos

Devo confessar que começo a ficar chateado com os tais dos asiáticos. Quais abutres, munidos de máquinas fotográficas e camaras de filmar, não hesitam em atropelar seja quem for na sua ânsia incontrolável por chegar primeiro e posar para a foto. Isso até talvez compreenda e tolere, afinal não deverão retornar, mas os "ruídos honomatopeicos" que emitem de espanto, surpresa ou medo, isso é que me esgota a paciência! Se alguém não passou por esta experiência, é porque nunca esteve fechado num teleférico lotado, com 40 japoneses idosos durante 20m, numa das ascensões mais espectaculares e, por instantes, talvez assustadoras a alta montanha. Inrepetível...espero.
Pássaros "Alpinistas"

Pelas 13:00 decidi descer, já sem japoneses à vista, e seguir até outro local espantoso: Mer de Glace.
Mer de Glace

Vale de Chamonix

Após subir no electrico até Montenvert, a 1900 e tal metros, seguiu-se uma descida curta de teleférico (mais umas centenas de degraus de escada) até ao "leito" do glaciar.
Junto ao glaciar

Trata-se de um autêntico rio de gelo, com 14km de comprimento e cerca de 400m de largura no local visitado, com grutas escavadas pelos locais (cria-se mais uma atraccao turistica=$$$).
Grutas no glaciar

Interessante quanto baste para valer a deslocação. Afinal não é todos os dias que penetramos num glaciar!
De regresso ao camping, a chuva fez mais uma aparição. É impressionante a rapidez com que o tempo muda por estas bandas! De céu limpo e solarengo a completamente carregado e chuvoso em menos de 20m. Nao admira que seja a principal preocupação do alpinista.
O serão terminou em jeito de "até breve" a estas paragens.

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quinta-feira, maio 12, 2005

Dia 8: De Paris aos Alpes

Acordeu bem cedinho pois avizinhava-se uma viagem longa (mentira...tinha era de evacuar do camping antes das 10:00). Pelas 9:30 já estava em cima da moto a caminho do sueste francês. Pela frente tinha mais de 650km pelo interior em direcção ao próximo destino: Alpes!
O percurso foi feito em ritmo descontraído, apreciando as paisagens, mas quiz o tempo ditar aguaceiros logo a seguir a Dijon. A instabilidade climatérica induzida pelos Alpes já ali se fazia notar. Já a sul de Genéve, ultrapassei o 1km de altitude. Facto trivial para a maioria dos europeus, mas nem tanto para um alentejano!
Foi ja por volta das 20:00, debaixo de chuveiros, que cheguei a Chamonix. A @, "domesticada" como já esta, tratou de me levar direitinho a um camping que, no mínimo, é estupendo! O cenario incomparável, as instalações magníficas, o serviço atencioso, enfim, tudo o que é necessário para nos sentirmos verdadeiros alpinistas na terra do alpinismo!
Camping Mer de Glace

O checkin foi rápido e às 20:30 a casa estava montada. Seguiu-se a janta, Paella à la "juntar àgua" e o serão acabou com a brisa da montanha perfumada com sabores a capuccino, antevendo já as "alturas" do dia seguinte...

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quarta-feira, maio 11, 2005

Dia 7: Pelas avenidas de Paris

Objectivo do dia: desbravar Paris! Comecei bem cedo, pelas 10:00, e mandei-me de cabeça para o caos matinal das principais vias da cidade. Após uma tentativa de visita ao posto de turismo principal (encerrado para obras) resolvi fazer a coisa a moda antiga: cirandar pelas avenidas e parar para ver o que me fosse enchendo o olho.Comecei por Notre Damme.
Catedral de Notre Damme



Catedral belíssima, riquíssima e a abarrotar de japoneses, chineses e demais asiáticos.
Entrada

Não fora o coro que entoava cantigos celestiais e o cenário divinal e até diria que me tinha equivocado e o monumento não era um local de culto, meditação e fé.
Pormenor de Notre Damme

Seguiu-se o incomparável Louvre já por volta da hora de almoço. Fiz uma visita muito rápida (cerca de 2h) por 2 motivos: primeiro, porque queria visitar outros locais e, segundo, porque este museu (talvez o melhor do mundo, em espaço e conteúdo) tem mais para ver do que alguem são conseguiria num mês!
Tectos no Louvre



A pirâmide de vidro

Limitei-me, portanto, a apreciar as maiores obras ali presentes, como "o escriba" egipcio ou as pinturas renascentistas, com particular destaque para a "Mona Lisa" (eu e mais 300 abutres...vá-se lá saber porquê!), e vagabundear aleatóriamente pelas restantes alas do Louvre.
A célebre "Mona Lisa"

Acabei por sair à pressa, com uma fome dos diabos, e num àpice puz-me nos Champs Elisees para devorar mais um McChicken na esplanada virado à Place Charles de Gaulle. Com o Arco do Triunfo a "piscar-me o olho" durante o repasto, foi mesmo eleito o destino seguinte!
Arco do Triunfo

A intenção era subir ao topo, e vislumbrar as 12 avenidas que ali começam, mas os 7€ que pedem para subir mais de 200 degraus à pata até uma altitude de apenas 50 e poucos metros já achei roubo! E descarado, covenhamos. A excitação "turistica" induz-nos ao pagamento de quantias significativas para obter experiências que, por vezes, julgamos ùnicas...mas há limites! Quer dizer, para subir os 272m da Torre Eiffel, de elevador, não custaram tanto e a panorâmica e incomparavelmente superior. Para entrar no Louvre 6€ bastam e temos da melhor arte que existe no mundo à nossa frente! O meu limite foram os 7€ neste caso...
Acabei o resto do dia a fazer um "moto site seeing tour", à moda nómada!

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terça-feira, maio 10, 2005

Dia 6: De Omaha Beach a Paris

Alvorada pelas 9:30! Arrumada a tralha, larguei ferro mais uma vez. O destino era a Cidade Luz: Paris!
Como não podia deixar de ser, desbravei o caminho pelas secundárias, quase em linha recta. É só vantagens: poupo a moto, poupo gasolina, não tem portagens...em suma, poupo dinheiro e ainda aprecio a paisagem e atravesso aldeias e vilas pitorescas que de outra forma não vislumbraria.
Cheguei aos arrabaldes da cidade grande já passava das 14:30. Percorri de seguida os intermináveis túneis rodoviários que dão acesso ao coração da França: magníficos!...apesar do GPS ganir. Quando vi a "Luz" já estava bem situado. Mais 10m e cheguei ao acampamento onde não demorei mais de 40m para me instalar. Estava em pulgas para "verdascar" em Paris e comecei, como qualquer bom "turista", pela Torre Eiffel.
Torre Eiffel

Após tirar as panorâmicas do costume e localizar os marcos turísticos a espiolhar, decidi embrenhar-me na vida da cidade, sem destino ou rota definido, e o momento nao podia ser melhor: hora de ponta!
Place de la Concorde

Perspectiva do Louvre

Perspectiva de Notre Damme

Perspectiva da Place Charles de Gaulle

Armei-me em "maria-vai-com-as-outras" e passei mais de uma hora a serpentear pelas majestosas avenidas, ora dum lado do Seinne ora doutro, com uma boa duzia de voltas ao Arco do Triunfo e desfile nos Campos Elísios! Mas que experiência fenomenal! Indescritível! Encontrei a "EuroDisney" em plena hora de ponta numa das maiores cidades do mundo! Ha poucas regras para cumprir e basicamente resumem-se ao "não bater" e "tentar respeitar os semáforos". De resto, é o "salve-se quem puder" que regula as prioridades, vias ou sentidos de trânsito! A minha inexperiência de conduções noutros países fez com que, até perceber o que se passava, a surpresa desse lugar a gargalhada e durante uns bons kms imperasse a estupefacção com o que me rodeava. Como "quem vai a Roma, deve-se comportar como romano" nao tardou muito a que entrasse no ritmo frenético do trânsito e me engrupasse nos autênticos enxames de scooters e motos que se enfiltram pelas filas desordenadas (não há linhas no chão) e tomam lugar na "Pole" à espera do verde!
A rotunda do Arco do Triumfo é uma autêntica selva! Concentrando 12 avenidas em cerca de 6 faixas de largura (digo cerca pois não há linhas no chão), sem semáforos e sem prioridades, é uma verdadeira aventura entrar ou sair dali! Até em sentido contrário eu vi andarem! Imperdível para quem venha a conduzir em Paris...e nós que nos queixamos de Lisboa! Que antagonia com o resto do pais!
Regresso a tenda para a janta e dou de caras com um grupo de "travestis" em filmagens no espaço onde eu decidi acampar! Não me fiz esquisito e ninguem se ralou com a minha discreta presença. Siga massa com almondegas e amanhã há mais!

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segunda-feira, maio 09, 2005

Dia 5: Pelos cenários do D-Day

Uma manhã muito agradável deixava antever um dia magnífico para a "exploração" dos cenários do dia D. Boa parte da manhã foi passada a percorrer as sepulturas do famoso American Cemetery.
American Cemetery
Passei o resto do dia num frenesim pelos lugares e praias históricas: Omaha, Gold, Juno (Utah e Sword ficaram para outra oportunidade - bem como o Mont St Michel) e pelos restos, alguns bastante bem conservados, das baterias alemãs como Pointe de Hoc.
Bateria Nazi em Pointe de Hoc

Para terminar, uma visita final ao Omaha ßeach Memorial Museum.
Guarita Nazi

Acabei o dia a caminhar pela longa praia e falésia de Omaha. Estou rendido a esta região. Voltarei muito em breve.
Guarita na praia

Tive ainda de "voar" baixinho para ir levantar dinheiro a Bayeux. De regresso ao camping, mais uma baixa...um dos suportes da mala "voou" tambem, mas noutra direcção qualquer. Ao menos fiquei a saber que aquela vibração metálica que ouvia na viagem não era do motor!

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domingo, maio 08, 2005

Dia 4: De Le Mans a Omaha Beach

Levantei-me cedinho (eram 8:30). O guarda do parque já estava presente e a par do ocorrido. Apressei-me a "legalizar" a minha situação. Durante a amena cavaqueira, surpreendeu-me com algumas palavras em português. Acabou por revelar que tinha uma "amiga" em Gaia e que já tinha estado várias vezes em Portugal. Pelo brilhozinho nos olhos, diria que a sua relação teria estravazado largamente a amizade. Bom para a reputação do nosso cantinho!
Após pagar a dívida, cerca de 3€(!! recomendo: 47º49'52''N 0º16'26''E), arrumei o material e apressei-me a dar continuidade ao trajecto planeado no dia anterior. Os pouco mais de 200km que me separavam de Bayeux "voaram" em cerca de 3 horas, sempre por estradas pitorescas, campos verdejantes e vilas bucólicas.
Vila na Normândia

Rua pitoresca na Normândia

Pouco depois das 13:00 ja estava em frente do Camping Municipal. Como constactei que a recepção só abria às 18:00, decidi dar início a um dos muitos "principais objectivos" desta aventura (como se fosse preciso algum...): conhecer um dos dias mais marcante da história universal: o dia D.
Iniciei a minha "reeducação" no ponto crucial da invasão. Arromanches.
Perspectiva de Arromanches

Mais conhecida na História por Port Winston, foi cenário para a instalação de um dos dois portos pré-fabricados por onde desembarcou toda a logística e armamento pesado das tropas aliadas, sem os quais o sucesso não teria sido possível.
Peça do porto

Uma visita ao Musee de Debarquement revela-nos uma autentica jóia da engenharia. Impressionante...e foi há 61 anos!
Praia de Aromanches

Após passeio pela praia, tracei rota para outro local carismático da invasão: Omaha Beach.
Nesta praia, local de desembarque das tropas norte-americanas, deu-se o combate mais sangrento da invasão, retratado já inúmeras vezes na tela em filmes como "Saving Private Ryan", o meu preferido. Todo o local e uma lição viva de História e reverência. Da praia avista-se o "camping Omaha Beach". Decidi ficar por cá 2 noites, acampado no local onde, ha 60 anos, milhares de homens deram a vida pela liberdade de todos nós.
Camping Omaha Beach

É com humildade e respeito que caminho no longo areal desta praia, testemunha da "Suicide wave", como ficou conhecida a primeria vaga da invasão. É tenebroso pensar naquilo que mentes humanas fizeram há apenas 60 e poucos anos atrás... Gostaria que todos os seres humanos "vivessem" estas memórias e locais para que a História, desta vez, não se repita.
Blindado norte-americano

Montei a habitação e fui até Bayeux em busca de mantimentos. Com tudo fechado (até o Lidl...) acabei a comer um McChicken.
Regressei a Omaha Beach. Mais um passeio na praia, agora praticamente deserta, e trilhei caminho para a cama!

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