domingo, abril 02, 2006

Dia 3: Do Gévora a Cañaveral

Eram quase dez da manhã quando acordei. O Cesár já andava atarefado. Lá de fora exclamou: "Por aqui não passamos! Temos de voltar para trás!" - Já tinha andado a passear pelas redondezas à procura de caminho!
Preparámos o café e, após o pequeno-almoço, fui também dar uma volta para reconhecer a àrea que tínhamos trilhado na noite anterior.
Já fiz muitos kilómetros de TT nocturno, mas por terreno "virgem" era uma estreia! A erva alta e as silvas cresciam por todo o lado, e os únicos trilhos visíveis eram os que tínhamos desbravado há poucas horas.
Segui os meus rastos até à margem do Gévora. No outro lado, avistava-se a rampa de acesso ao leito mas do lado de cá, nem vestígios...
O rio estava caudaloso e, no pico da época das chuvas, deve ter corroído as margens e desfeito o acesso que necessitávamos no nosso lado... o mato engoliu o resto de tudo.
Decidimos jogar pelo seguro e voltar atrás até à ponte de Batoa, e depois retomar a pista em Alburquerque. O restante pessoal já tinha feito o "check-out" do castelo. Tínhamos bastantes quilómetros para recuperar para os restantes grupos e descontraídamente começámos a arrumar o material.
Poucos depois estávamos em marcha. Cruzámos a ponte e rumámos por estrada até Alburquerque. Rapidamente retomámos o track e, pouco tempo depois alcançávamos o primeiro grupo de hermanos a reparar a LC4: tinha furado atrás.
Após uma curta pausa, continuámos a jornada em direcção a Cañaveral. A pista não apresentava dificuldades de maior, pelo que progredíamos com facilidade e diversão. Apenas as irritantes cancelas sucessivas interropiam o avanço. Nada que não estejamos já habituados a constactar no nosso Alentejo. Pelo menos, aqui não haviam cadeados...
Grandes espaços abertos intercalavam com estreitos caminhos que serpenteavam junto a velhos muros de alvenaria insossa. Por alguma razão que desconheço, gosto de muros de alvenaria. Aliás, devo mesmo dizer que circular junto destas relíquias em ruínas me provoca uma enorme satisfação. Talvez seja por serem testemunhos de outras eras; de tempos passados.
Tempos em que a divisão de propriedade só era possível com muito suor e esforço.
Demorariam meses, talvez anos, a erguer centenas de metros de muro em torno de uma propriedade. Pedra a pedra. Um muro de alvenaria insossa é um adorno natural; um cerca de arame é uma aberração, uma ameaça, uma descaracterização do meio. Um muro de pedra até caracteriza uma região, a sua cultura, a sua geologia; não destroi nem afecta a Natureza, modela-a.

Mais adiante, esperava o Cesár numa cancela. O Elbling tinha avançado um pouco mais. Fizémos uma pausa e, pouco depois, regressava o Elbling visivelmente consternado.
Tinha voltado para trás devido à nossa demora e, coisas do destino :), espalhou-se dentro duma poça de lama mais traiçoeira!
Foi prova demasiado dura para as fraquinhas malas laterais da Givi. Não partiram, é verdade, mas deformam-se com muita facilidade. Um autêntico conjunto de tupperwares! :)
Enquanto descansava à sombra de um velho sobreiro, o Elbling estendia a roupa, outrora lavada, pelo chão numa desesperada tentativa de secar a peças íntimas!

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