segunda-feira, maio 01, 2006

Dia 18: De Moutbanc a Foum El Hassan

Fui o primeiro a acordar para uma bela manhã primaveril, poucos minutos faltavam para as 7h. De alguma forma as escassas horas que descansei surtiram o efeito revitalizador duma bela noite de sono. Fui calmamente arrumando as coisas enquanto, à vez, os restantes companheiros despertavam para um novo dia.

Não foi antes das 9h que o roncar grave dos motores inundou a atmosfera silenciosa do oásis de Moutbanc. Deixámos o palmeiral e progredimos ao longo duma pista bem marcada pela caravana do Dakar.
Escassos quilómetros depois passávamos na proximidade da povoação de Mlalig e decidimos aproveitar para repor as reservas de pão e água. Tencionámos descobrir pistas que nos levassem até Assa e, à descoberta, poderíamos demorar até três dias a lá chegar.

Retomámos a pista inicial e, velozmente, seguímos para sudoeste - o azimute de Assa - ladeados pelo Jbel Bani e o Adrar N Giliz. Passámos alguns quilómetros a sul de Touzounine e a pista, progressivamente, tornou-me mais estreita, acidentada e degradada, com grandes pedras pontiagudas que emergiam do solo. Circular fora de pista seria perigoso, para não dizer impossível. Tudo à nossa volta era lunar: rochoso, sólido e seco. Apenas alguma vegetação rasteira desmentia a esterilidade deste lugar.

De que tivéssemos conhecimento - e particularmente o Quim, cujo conhecimento cartográfico não é de forma alguma menosprezável - não haviam pistas transitáveis a sul de Akka que nos permitissem fechar uma ligação entre Merzouga e Assa sempre - na medida do autorizado - junto à fronteira. Tal era possível entre Merzouga e Akka mas a partir dai a única alternativa à estrada alcatroada para Foum-el-Hassan ficava a norte da mesma. Estávamos portanto motivados com a perspectiva de encontrar o elo em falta nesta ligação.

O vale foi-se estreitando até que vislumbrámos mais um obstáculo.
Intransponível. Foi o que constatámos na curta conversa com os militares. Aproveitando a estreita amplitude do vale, o exército ergueu um muro de pedra com cerca de um metro de altura, "fechando" a passagem para sul e instalando um posto de controlo que interditava qualquer circulação naquela zona. Para lá da corrente enferrujada que nos barrava a progressão, estendia-se a zona militarizada fronteiriça e, para lá desta, território argelino.
À medida que nos aproximamos do Sahara Ocidental, o controlo militar junto da fronteira intensifica-se. Esta região foi(é?) zona de conflito com a Frente Polisario e fica na área de influência de Tindouf(Argélia), reconhecida como "capital" da Frente Polisario e do governo sarahui no exílio.
Após o já habitual controlo dos passaportes, e absoluta irredutibilidade dos simpáticos militares quanto ao sentido da nossa progressão, lá voltámos para trás.
Come se não bastasse o contratempo, ainda arranjei forma de furar a roda da frente...

Durante vários quilómetros avaliámos alternativas e tentámos caminhos, sem grande sucesso. Não havia hipótese. Pistas, só mesmo a norte do asfalto, que se confirmava então como a via mais próxima da fronteira.
Prosseguimos escassos quilómetros até que encontrámos uma pista que seguia para norte. Afastava-nos da fronteira... mas a verdade é que o asfalto não era caminho que nos agradasse. E a pista encontrada tinha muito bom aspecto! Mantinha-se a característica lunar do terreno, mas agora, com alguns palmeirais dispersos.
E foi num deles, escassos quilómetros pela pista afora já sob um sol escaldante, que decidimos parar para almoçar.

Aproveitei o conforto soalheiro do local para cozer mais umas espirais de massa, que misturei com uma lata de lulas e atum. Um repasto caprichado!
Após talvez uma hora de lazer, continuámos a progressão. Pouco depois, a AT do Jacinto entrava na reserva. Mediante a incerteza da direcção e dimensão da pista, apontámos o azimute a Foum El Hassan onde já sabia que existia gasolina embarrilada.

A pista revelava-se espectacular, muito dura mas suficientemente cénica e com algumas dificuldades para nos manter empenhados na condução. Por vezes até demais, forçando ritmos de progressão bastante «competitivos»! Eu e o Jacinto íamos «picados»! Fantástica a sua destreza para quem tinha muito pouca experiência de verdasca com uma moto deste calibre!


Entretanto, foi a vez do Tiago furar também a roda da frente, à passagem por uma pequena povoação.

Percurso do dia

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