quinta-feira, julho 17, 2008

Varsóvia: a fénix da Europa

Renascida de cinzas. É assim que podemos descrever a capital polaca.
Cheguei aos arredores de Varsóvia já perto das 11h. A noite foi terrivelmente curta e desconfortável... custa-me sempre acostumar às duras, estreitas e "irrequietas" camas do comboio.

O país rural parece desolado. Há agricultura e alguma industria, mas a grande maioria das unidades fabris ao longo da linha férrea estão deslapidadas e corroídas.
Sendo a minha primeira incursão na Polónia, não sabia bem o que esperar. Confesso que imaginava um país parecido com a Roménia. Apesar da sua rica história, esperava apenas mais um ex-satélite da URSS cuja cultura própria eventualmente se pudesse ter perdido na "escola soviética".

Chego aos arrabaldes da capital. Ao longe, no centro da cidade, distinguem-se vários arranha-céus de aspecto elegante. Mas um atrai particular atenção. Trata-se de um arranha-céus de traça Estalinista, semelhante às "sete irmãs" de Moscovo, e que foi oferecido pela antiga URSS à Polónia, como sinal de amizade. Hoje é conhecido como Palácio da Cultura e Ciência. Ao que consta, os polacos não gostam muito do edifício. Percebe-se porque... isto e', indiferente, ninguém fica! Ou se adora, ou se odeia... eu gosto, é diferente.

Chego à estação Centralina e emerjo numa ampla praça rodeada de grandes edifícios espelhados. Há um movimento frenético de pessoas e viaturas. Não há' duvidas, "cheira" a leste! Apesar dum tal de Hard Rock Cafe ficar logo ali numa esquina movimentada. Os tempos são mesmo outros...

Mentalmente, já "gravara" o mapa da cidade. Sabia por onde ir para chegar ao hostel escolhido, um tal de "Oki Doki" junto à movimentada Swietokrzyska, não muito longe da velha cidade, a tal que foi completamente arrasada na fase final da segunda grande guerra. As longas e amplas avenidas guiaram-me atá ao Hostel em cerca de 20 minutos.
Pelo caminho, passei por alguns parques onde jovens e idosos repousavam, bebiam cerveja ou comiam um gelado. Pareceu-me imediatamente uma cidade muito tranquila e transmitiu-me uma segurança enorme, como talvez nenhuma outra.

O hostel fica no último andar de um edifício de escritórios. No hall, um enorme segurança guarda a porta com ar de (muito) poucos amigos.
"Hostel" - digo. Anui suavemente com a cabeça.
Subo as escadarias de pedra até à recepção e sou recebido por duas simpáticas polacas. Falam perfeitamente inglês e dizem-me que os quartos só estão prontos às 15h. Há uma sala de bagagem onde posso deixar a mochila até fazer checkin. Perfeito!

Saio novamente para as ruas novas da cidade. Volto à estação para comprar moeda e tratar já do bilhete para Moscovo. Tomo uma rota diferente e aprecio mais uma dose da descontracção do povo polaco. Vejo pessoas nas ruas a passear, a rir. Não vislumbro tristezas. Os passeios são largos, desimpedidos e sombreados por árvores, nos quais desfilam mulheres bonitas. Há uma cultura de boa aparência. O transito é intenso mas bem escoado pelas largas avenidas, algumas com dez faixas de rodagem!
Nos arredores da estação, procuro um Kantor (cambista). Na estação já tinha detectado uns quantos, mas oferecem sempre câmbios mais baixos do que noutras zonas com menos viajantes. E o que não falta em Varsóvia, tal como em qualquer outra capital fora da zona Euro, são cambistas. Uns mais legais que outros.
Por fim, penso ter encontrado o "mais cotado" da zona e compro alguns zloty.
Regresso à estação e dirijo-me à caixa internacional. A fila é longa...
Passada uma hora tinha o bilhete Warszawa-Moskva na mão.
Vou dar uma volta. Deixo até ao rio ao longo da Swietokrzyska, uma avenida de edifícios sóbrios e cinzentos do pós-guerra. Depois sigo as margens pela Wybrzeże Kościuszkowskie até à Wybrzeże Gdańskie, ambas alinhadas por alguns edifícios de grande beleza, como a biblioteca da Universidade de Varsóvia (na foto), em cujas paredes foram representadas graficamente diversas áreas do conhecimento e outros, do início do século, que sobreviveram à guerra.
Mas nada me poderia preparar para a velha cidade. Tanto mais que não me recordo de ter visto sequer imagens da mesma anteriormente. Ao chegar à Wybrzeże Gdańskie, fintando o rio do alto da colina, ergue-se o Castelo Real. Não o que foi reduzido a escombros durante a guerra, obviamente, mas a fiel reconstrução executada pelos polacos. E que vista!

Subo a Aleja Solidarności até à Plac Zamkowy e reconheço o local. Não como está, mas como foi representado no filme "O Pianista". Apanho exactamente a mesma perspectiva e imediatamente me vem à memória aquela ampla rua desnivelada, e completamente arrasada, que aparece na parte final do filme. Mas está como nova, esplêndida! Perco-me maravilhado pelas ruelas antigas. Uma observação cuidada revela facilmente a idade dos edifícios. Não são realmente tão "antigos" quanto parecem... mas parecem, e isso é que importa!! Impressiona a dedicação e atenção ao detalhe com que os polacos reconstruíram o coração da sua cidade. Vislumbra-se o seu orgulho em cada recanto, em cada janela, em cada rosto. Valeu a pena, e ainda vale. Um pouco por todo o lado afinam-se detalhes, ultimam-se retoques, reerguem-se paredes que o trabalho não está ainda terminado.
Fiquei encantado. Se já tinha gostado da cidade durante o pequeno passeio inicial pelo centro, apaixonei-me definitivamente após percorrer a Krakowskie Przedmieście! Vou voltar.

Regresso ao hostel pelas 16h, ainda extasiado mas completamente "estoirado". As últimas noites foram mal dormidas e levo vontade de descansar umas horas. A simpática polaca mostra-me a minha cama, num dos quartos do andar superior. É amplo com 3 sólidos beliches em madeira (os maiores que já vi) e uma cama individual. Fico no "R/C" do primeiro mega-beliche. Gosto do quarto! Sou o seu primeiro residente do dia. Desço ao piso inferior para carregar algumas fotos pela internet.

Por volta das 18h30 já mal abro os olhos. Volto ao quarto e encontro um tipo deitado numa cama. Falamos.
Chama-se Dave, é australiano e psicólogo a trabalhar numa escola internacional em Bangkok, onde vive actualmente. Penso que simpatizámos imediatamente.
Conversámos durante um bom par de horas, sobre viagens (inevitavelmente) e vida em geral, o que fez com que o meu cansaço "desaparecesse" momentaneamente.
Fomos jantar a um restaurante concorrido na Nowy Swiat, o Zgoda Grill Bar, e deliciei-me com alguns pratos tipicamente polacos. Para começar, Zurek, uma sopa rica de legumes com ovos cozidos e salsicha. Depois, carne de porco estufada com molho e acompanhada de uma espécie de massa caseira. Muito saboroso. Tudo isto acompanhado, claro esta', com cerveja da própria casa!!

Voltámos ao hostel e fazemos serão no bar. Holandeses, alemães e ingleses deambulam pelo hostel. Bebemos umas cervejas e, por volta da meia-noite, lá vamos finalmente descansar.
Esperava-me um dia em cheio para atacar, salvo seja, a velha cidade!

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