Cheguei aos arredores de Varsóvia já perto das 11h. A noite foi terrivelmente curta e desconfortável... custa-me sempre acostumar às duras, estreitas e "irrequietas" camas do comboio.
O país rural parece desolado. Há agricultura e alguma industria, mas a grande maioria das unidades fabris ao longo da linha férrea estão deslapidadas e corroídas.
Sendo a minha primeira incursão na Polónia, não sabia bem o que esperar. Confesso que imaginava um país parecido com a Roménia. Apesar da sua rica história, esperava apenas mais um ex-satélite da URSS cuja cultura própria eventualmente se pudesse ter perdido na "escola soviética".

Chego à estação Centralina e emerjo numa ampla praça rodeada de grandes edifícios espelhados. Há um movimento frenético de pessoas e viaturas. Não há' duvidas, "cheira" a leste! Apesar dum tal de Hard Rock Cafe ficar logo ali numa esquina movimentada. Os tempos são mesmo outros...

Mentalmente, já "gravara" o mapa da cidade. Sabia por onde ir para chegar ao hostel escolhido, um tal de "Oki Doki" junto à movimentada Swietokrzyska, não muito longe da velha cidade, a tal que foi completamente arrasada na fase final da segunda grande guerra. As longas e amplas avenidas guiaram-me atá ao Hostel em cerca de 20 minutos.
Pelo caminho, passei por alguns parques onde jovens e idosos repousavam, bebiam cerveja ou comiam um gelado. Pareceu-me imediatamente uma cidade muito tranquila e transmitiu-me uma segurança enorme, como talvez nenhuma outra.

"Hostel" - digo. Anui suavemente com a cabeça.
Subo as escadarias de pedra até à recepção e sou recebido por duas simpáticas polacas. Falam perfeitamente inglês e dizem-me que os quartos só estão prontos às 15h. Há uma sala de bagagem onde posso deixar a mochila até fazer checkin. Perfeito!
Saio novamente para as ruas novas da cidade. Volto à estação para comprar moeda e tratar já do bilhete para Moscovo. Tomo uma rota diferente e aprecio mais uma dose da descontracção do povo polaco. Vejo pessoas nas ruas a passear, a rir. Não vislumbro tristezas. Os passeios são largos, desimpedidos e sombreados por árvores, nos quais desfilam mulheres bonitas. Há uma cultura de boa aparência. O transito é intenso mas bem escoado pelas largas avenidas, algumas com dez faixas de rodagem!

Por fim, penso ter encontrado o "mais cotado" da zona e compro alguns zloty.
Regresso à estação e dirijo-me à caixa internacional. A fila é longa...
Passada uma hora tinha o bilhete Warszawa-Moskva na mão.

Mas nada me poderia preparar para a velha cidade. Tanto mais que não me recordo de ter visto sequer imagens da mesma anteriormente. Ao chegar à Wybrzeże Gdańskie, fintando o rio do alto da colina, ergue-se o Castelo Real. Não o que foi reduzido a escombros durante a guerra, obviamente, mas a fiel reconstrução executada pelos polacos. E que vista!
Subo a Aleja Solidarności até à Plac Zamkowy e reconheço o local. Não como está, mas como foi representado no filme "O Pianista". Apanho exactamente a mesma perspectiva e imediatamente me vem à memória aquela ampla rua desnivelada, e completamente arrasada, que aparece na parte final do filme. Mas está como nova, esplêndida! Perco-me maravilhado pelas ruelas antigas. Uma observação cuidada revela facilmente a idade dos edifícios. Não são realmente tão "antigos" quanto parecem... mas parecem, e isso é que importa!! Impressiona a dedicação e atenção ao detalhe com que os polacos reconstruíram o coração da sua cidade. Vislumbra-se o seu orgulho em cada recanto, em cada janela, em cada rosto. Valeu a pena, e ainda vale. Um pouco por todo o lado afinam-se detalhes, ultimam-se retoques, reerguem-se paredes que o trabalho não está ainda terminado.
Fiquei encantado. Se já tinha gostado da cidade durante o pequeno passeio inicial pelo centro, apaixonei-me definitivamente após percorrer a Krakowskie Przedmieście! Vou voltar.
Regresso ao hostel pelas 16h, ainda extasiado mas completamente "estoirado". As últimas noites foram mal dormidas e levo vontade de descansar umas horas. A simpática polaca mostra-me a minha cama, num dos quartos do andar superior. É amplo com 3 sólidos beliches em madeira (os maiores que já vi) e uma cama individual. Fico no "R/C" do primeiro mega-beliche. Gosto do quarto! Sou o seu primeiro residente do dia. Desço ao piso inferior para carregar algumas fotos pela internet.
Por volta das 18h30 já mal abro os olhos. Volto ao quarto e encontro um tipo deitado numa cama. Falamos.
Chama-se Dave, é australiano e psicólogo a trabalhar numa escola internacional em Bangkok, onde vive actualmente. Penso que simpatizámos imediatamente.
Conversámos durante um bom par de horas, sobre viagens (inevitavelmente) e vida em geral, o que fez com que o meu cansaço "desaparecesse" momentaneamente.
Fomos jantar a um restaurante concorrido na Nowy Swiat, o Zgoda Grill Bar, e deliciei-me com alguns pratos tipicamente polacos. Para começar, Zurek, uma sopa rica de legumes com ovos cozidos e salsicha. Depois, carne de porco estufada com molho e acompanhada de uma espécie de massa caseira. Muito saboroso. Tudo isto acompanhado, claro esta', com cerveja da própria casa!!
Voltámos ao hostel e fazemos serão no bar. Holandeses, alemães e ingleses deambulam pelo hostel. Bebemos umas cervejas e, por volta da meia-noite, lá vamos finalmente descansar.
Esperava-me um dia em cheio para atacar, salvo seja, a velha cidade!
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