quarta-feira, julho 16, 2008

Venha a Polska

Deixei Paris. A cidade luz, cosmopolita e universal, vaidosa e orgulhosa como nenhuma outra capital europeia, cambaleia por estas alturas ao timbre dos sotaques "yankie" e nipónico. Por todo o lado há centenas de jovens americanos e menos-jovens orientais que, aproveitando as férias (ou as reformas), invadem a Europa - para eles a França, Alemanha e Itália - para torrar muitos dólares... seja qual for a tendencia cambial. Procuro evitar estas enchentes e sei que estou "imune", desde que me matenha afastado dos habituais locais de peregrinação.
O hostel onde passei a noite, na Rue de Crimée - a 15min de metro do coração da cidade - está apinhada. No meu quarto, somos 5: dois brasileiros, dois norte americanos e eu. Um dos yankies, o Tom que aparenta pouco mais de 20 anos, anda a vaguear pela "Europa" (a tal) desde Janeiro.
"And Portugal? Do you plan to go down there?" - pergunto.
"Well... I've met two portuguese in Poland...".
Nao decifro a resposta...
Desço ao bar para beber um copo. Há garrafas de cerveja vazias espalhadas por todo o lado. A atmosfera tresanda ao odor azedo do álcool já destilado. Gargalhadas e gritos ecoam pelo amplo espaço repleto de malta jovem e cheia de vida. A cena parece-me saída duma qualquer série juvenil da TV norte-americana. Não fico, já não sinto grande motivação para isto.
Volto para o quarto. Está lá o Tom e entretenho-me mais algumas horas a ler e a conversar, mais um daqueles diálogos vazios e inconsequentes.

Por mais que tente, acabo sempre "perdido" nos transportes públicos. Distraio-me com cartazes, mapas ou escritos e quando dou por mim já passou a estação pretendida! Quando aterrei em CDG, apanhei o suburbano B3 que tomaria até à Gare de L'Est mas... só "acordei" em Orsay... e porque me lembrei que em Orsay fica um outro aeroporto a sul do centro! Curiosamente, a pé, espanto-me constantemente ao encontrar o que procuro quase sempre à primeira. Basta-me passar os olhos por um mapa e, mesmo desconhecendo os nomes das ruas, acabo por depois ir lá ter direitinho. Foi assim que fui parar, milimetricamente, aos portões da embaixada bielorussa.

Uma jovem na casa dos 30 anos, de feições eslavas muito bonitas, bem vestida e perfumada, lança-me os olhos azuis de trás do pequeno vidro da recepção. Pede-me o passaporte e folheia algumas páginas. Esboça uma careta e...
"Ooohhh... Grand voyage! Hum?" - diz-me num francês cristalino.
Espero que sim, respondo. Avalia a papelada que já trago preenchida e pede-me que aguarde alguns minutos.

Nessa tarde, após deixar a embaixada da Belarus (como a república gosta de ser chamada) já a palpitar de adrenalina, resolvi dar um saltinho à Gare du Nord e comprar a passagem para Varsóvia. Inevitavelmente, perdi-me algures pelo caminho...

Chego à Gare du Nord. Gente de todas as cores, feitios e credos deambula pelo amplo e extenso terminal. Um enorme placard anuncia destinos domésticos e internacionais. Tiro algumas fotos.
A maquina encrava, fica a mastigar uma foto... depois dá erro e indica que o cartão não esta formatado! Nem pensar!!! Não estou disposto a perder as fotos que tirei até aqui.
Compro o bilhete para o comboio Thalis com destino a Colónia, onde farei a ligação ao "Jan Kiepura", o comboio que liga Colónia a Varsóvia durante a noite.
Volto à pousada e tento alguns programas para recuperar dados, mas os PCs aqui estão demasiado restringidos para conseguir alguma coisa. Guardarei o cartão assim para tentar resolver em casa...
Deixo a pousada e vou ao Forum Les Halles, onde há uma FNAC, para comprar um cartão novo. Tenho uma hora até à partida do comboio e vai ser apertado. Arrisco.

Compro um cartão e regresso à Gare du Nord. Faltam apenas 20 minutos para a partida.


Dou uma volta pelo exterior em busca de alimento. Acabo por comprar uma sandes de frango uma garrafa de água mineral num quiosque e retiro o bilhete da bagagem. Faltam 3 minutos. Aproximo-me do comboio e verifico o número da minha carruagem. É mais para o fundo... mais... mais... desato a correr! O comboio "grita" a partida... corro mais!!!
A sequência de carruagens é enorme. Não é um, mas sim três comboios! Seguem juntos até Colónia, depois, cada qual o seu destino: Copenhaga, Praga e Frankfurt.
Instalo-me e transpiro por todos os poros... já está! Agora sim, começou a longa marcha para Este!

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