sábado, julho 19, 2008

Era uma vez... na Rússia

Acordo cedo. O relógio indicava 5h00.
Pela janela vejo um céu encoberto e carregado. Procuro referencias à medida que o comboio vai avançando mas sem sucesso. Está frio, nem apetece sair da cama.
Esperava ter sido acordado a meio da noite para atravessar a fronteira entre a Bielorrússia e a Rússia... mas ninguém me acordou. Estranho...

Edifícios isolados e despojados, casas de madeira apodrecidas, industria abandonada e aquartelamentos bem mantidos, pintados em tons de verde, vão desfilando lá fora.
Cruzamos estradas onde circulam viaturas antigas, ferrugentas, irreconhecíveis. Localidades pequenas e desoladas.

Estarei na Rússia? A duvida assalta-me. Tranquei o compartimento por dentro, como a assistente me indicou... terão os guardas vindo ao comboio e se "esquecido" de mim? Parecia-me inconcebível: "Isso não acontece. Não na Rússia..."
Os corredores da carruagem estão desertos, não encontro a assistente.
"Ainda é cedo... devemos estar um pouco atrasados." - aguardo.

Por volta das 8h40 chegamos aos arredores duma cidade. Não pode ser... a provodnitza aparece e diz-me que é Moscovo!
"Moskva?" - exclamo!
"Da!"
"Passport control?? Stamp??" - tento. Mas a resposta é russa.
Saio para a estação e estou mesmo em Moscovo. Há um mar de gente pelos extensos apeadeiros da Belorusskiy. Penso na situação.
Do pouco que sei, não me parecia normal transitar entre dois países independentes sem ser controlado... muito menos, quando um deles é a Rússia.
Procuro um policia e tento explicar a situação. Não fala inglês.
Com algum esforço, entende o que pergunto. Fica agitado e manda-me comprar um bilhete para trás, para Smolensk, cidade na fronteira com a Bielorrússia. Escrevinha qualquer coisa no meu bilhete... não compreendo.
"Bilyet...Smolensk" - repete!
Não quero acreditar... afasto-me e infiltro-me na multidão. Ligo para a embaixada para tentar esclarecer a situação mas ninguém atende. Tento durante mais de uma hora e nada... é Sábado.
Decido esgueirar-me para o hostel. Pode ser que lá alguém saiba o que aconteceu e o que posso fazer.

Compro alguns rublos e abandono a estação. Avanço pela Tverskaya ulitsa e desço ao metro. A estação e' deslumbrante mas... a minha concentração está investida num só pensamento: "Estou ilegal na Rússia?!..."

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1 comentário:

Unknown disse...

A ultima vez que soube noticias tuas, andavas a vaguear pela Mongólia, impressionante! Andas a arranjar casa p/ os amigos com garagem p/ as motas? ;-)
Continuação de muito desfrute!!! Quero ver fotos da Mongoliaaaa.
Bessosss