quarta-feira, agosto 31, 2005

Dia 8: De Agadir a Essaouira

Cedo deixámos Agadir e, seguindo para norte em direcção a Essaouira, ladeámos a colina onde pontifica o forte "lusitano", agora sobre inscrições àrabes na encosta que poderiam ser traduzidas por "Agadir Sauda-vos".

Ao longo dos kms da linha costeira, que nos acompanham até Essaouira, o cenário é monótono e pouco vistoso. Depois, à medida que iniciamos a travessia do Anti-Atlas, a estrada torna-se caprichosa, enroscada ao longo das encostas e o ambiente muda progressivamente. A vegetação rasteira e o solo avermelhado vão cedendo lugar a oliveiras, sobreiros e ao pasto mediterrânico.
A sinuosidade do percurso rapidamente me entusiasmou, e o 4x4 foi ficando, inevitavelmente, para trás!
Ao longo da estrada, vendedores com bancas improvisadas distribuem-se ao longo de várias dezenas de quilómetros, com intervalos de escassas centenas de metros entre si. Erguem garrafas de vidro à minha passagem. O conteúdo é translucido... pareceu-me azeite, embora não tenha parado para comprovar.
A cerca de 10Km de Essaouira decidi parar num café à beira da estrada e aguardar pelo resto do pessoal.
Ao longo dos últimos dias, e paricularmente durante toda a manhã, vinha sentindo a garganta seca e alguma dificuldade em deglutir pelo que aproveitei para beber um refresco.
Cerca de uma hora depois, por volta das 13:00, já tinhamos regateado a refeição e estávamos a disfrutar de um autêntico banquete de peixe e marisco...

...nas barracas da praça...

...junto ao antigo forte português.

A primeira impressão que tive, ao chegar a Essaouira, foi um enorme sentimento de familiaridade. Apesar da atmosfera turística da cidade, o ambiente é tradicional e pacato. A traça dos edifícios, o modo das gentes, tudo aponta para uma história que não é àrabe... a presença de Portugal ainda se sente fortemente em cada recanto do Mogadouro, como nós lhe chamávamos :)

Após o repasto, enveredámos pelas ruelas estreitas da medina. Enquanto uns diambulavam em busca de artefactos eu tentava descobrir, em cada recanto, a imagem perfeita que retratasse a minha percepção de Essaouira...

Apesar de considerar que essa imagem fortuita me escapava de cada vez que empunhava a camâra, a que talvez mais se aproxime seja esta que tirei de uma das torres, por entre as ameias da fortificação.

Sem esforço, imagino combates navais travados nesta costa rochosa e irregular.
As peças de artilharia, que fintam o horizonte desde a muralha, são quase todas herança da coroa espanhola que ocupou Essaouira após a nossa retirada. Quase, pois resta ainda um exemplar português cuja foto ainda aqui heide publicar.

Entretanto a dor de garganta, que me incomodou com mais intensidade ao longo de todo o dia, piorou consideravelmente e já não conseguia engolir fosse o que fosse...até do chá me vi privado! Sentia-me, de facto, abatido e com uma forte dor de cabeça. Diagnóstico da nossa enfermeira: anginas...
Fiquei então a saber que há alguns dias que ela estava a curar anginas e, lamentavelmente, deveria ter sido contagiado por ela. Nada de grave :) pois medicação não faltava a bordo!
Devido ao mau estar que sentia, verifiquei que não tinha condições para prosseguir viagem até Marrakesh e a comitiva concordou em passar a noite em Essaouira.
Procurámos então um estalagem para passar a noite e acabámos por escolher uma muito agradável na medina.
"La Maison du Sur", como se chama, é uma estalagem com excelentes condições e muito bem decorada. Construída ao estilo marroquino, em torno de um pátio central, dispõe de quartos agradáveis dispostos em torno do pátio e um ambiente extremamente acolhedor. Agradável surpresa são também os preços que, não estando tabelados, são regateados após uma breve visita pelas instalações! Sem pequeno almoço, acordámos em cerca de 20€ por pessoa. Bastante acessível tendo em conta a localização e as condições da estalagem.
A clarabóia sobre o pátio...

...com os quartos dispostos em redor...

...a sala de refeições e bar no pátio...

e o aspecto do quarto, já desarrumado :)

Passavam das 20:30 quando tomei o anti-biótico e me deitei ;) O resto do pelotão? Rumou às barracas para mais um banquete de marisco!
Foi uma belíssima noite de sono...

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