terça-feira, agosto 30, 2005

Dia 7: De Foum-el-Hassan a Agadir

Acordámos pouco depois do nascer do sol. Apesar do fraco conforto do alojamento, até posso dizer que descansei bem!
Novamente, o itinerário planeado sofreu alterações e a etapa Tan Tan - Sidi Ifni, talvez das mais belas no "cardápio" (devido ao troço ao longo da praia), foi sacrificada devido à falta de tempo...
Arrumámos o material, agradecemos aos guardas e partimos em direcção a Sidi Ifni - via Guelmime.

A aproximação à costa era notória. A neblusidade cobria os céus, o odor a maresia galvanizava após as "securas" do deserto e a humidade saturava a atmosfera chegando ao ponto de "molhar" a roupa!
Eis que enfim...o mar!

A praia em Sidi Ifni estava concorrida apesar do tempo encoberto e da temperatura baixa. Decidimos subir ao longo da costa em direcção a Agadir, procurando uma aldeia de pescadores onde pudéssemos comprar peixe fresco para grelhar no caminho.
Acabámos por chegar a Aglou-Plage e ao seu mercado à beira mar. Após questionar alguns vendedores de peixe no mercado, um deles indicou-nos a localização do pequeno porto de pesca e disponibilizou as chaves da sua arrecadação junto ao mesmo para que pudéssemos utilizar o seu fogareiro!
Seguindo as instruções desenhadas num pedaço de cartão, seguimos um caminho de areia até chegamos ao local, a cerca de 3Km a Norte de Aglou-Plage. Um paraíso...
No pequeno porto encrustado na falésia, o frenesim da lota era evidente. O peixe que ia chegando era rapidamente rodeado pelos comerciantes e regateado vigorosamente.
Dirigimo-nos a uma pequena arrecadação de apetrechos onde se encontravam dois pescadores a amanhar peixe e, após perceberem o que pretendiamos, imediatamente nos arranjaram duas enormes sardas...
...e depois de verificarmos que na arrecadação que nos tinha sido emprestada não havia carvão o Aziz (um dos pescadores) disponibilizou, para que pudéssemos grelhar e saborear o peixe com traquilidade, aquela que viria a ser uma das mais belas maisons que conheci até hoje :)

Escavada numa falésia junto ao mar, na encosta arenosa, possuia três divisões independentes e ligadas por grandes janelas: uma cozinha, uma sala e um quarto.


Possuia ainda uma divisão mais recente: o WC. Este fora construido ao canto do terraço que servia também de corredor, interligando os três espaços.

A decoração simples, mas de muito bom gosto, produzia um resultado final indiscrítivel... viver ali, em isolamento moderado, acordar com o aroma da maresia, abrir a porta e fintar a imensidão do mar materializava, como nenhuma outra o fez até hoje, a casa dos meus sonhos.

Será, com certeza, ponto de paragem obrigatório numa próxima viagem por Marrocos.

Após a saborosa refeição preparada pelo mestre Aziz (mas por aqui todos se chamam Aziz?! Não...também há uns quantos Mohamed e Hassan!)...

...seguimos em direcção a Agadir, via Tiznit.
Mas foi pouco depois de sair de sair de Aglou-Plage que vislumbrei a entrada para uma pista que, segundo as cartas do IGN, seguia para norte. Avisei o resto da comitiva que me encontraria com eles mais tarde, pois estava farto de asfalto e iria seguir aqueles trilhos...
Infelizmente não tenho fotos do percurso, pois a máquina ficou dentro do 4x4, mas passei por aldeias e locais lindíssimos que valeram bem os quase 50Km percorridos por caminhos de areia no litoral marroquino.
Foi apenas em Sidi-Bibi que me encontrei novamente com o 4x4 e parámos para beber um refresco...
Em poucos segundos, tínhamos a aldeia à nossa volta. Os miúdos...e os avós! Os engraxadores de sapatos...e os lavadores de carros! O assédio era tão intenso que qualquer tentativa de "sacudir" a pressão era rapidamente contrariada por uma pressão ainda mais intensa e com gritos ainda mais histéricos...a situação estava definitivamente a ficar fora de controlo! Estavam a iniciar um motim!... XD
O pessoal do 4x4 acabou por efectuar uma retirada estratégica, justamente quando o lavador se apercebeu que não seria recompensado pelo seu esforço notável mas indesejado em lambuzar os vidros do carro, algo que considerou injusto e, no mínimo, desprezível!...
Para mal dos meus pecados, fiquei entregue à "hienas"...e, por mais habituado que já estivesse ao constante "pedinçar" marroquino, não deixei de me imaginar linchado entre gritos de "ARGEANT, DIRHAM...ARGEANT! CADEAUX...STYLO"!! ;)
Saltei para a moto e, a muito custo, deixei a multidão para trás num rebuliço apocalíptico...
Poucos minutos depois, chegávamos a Agadir. Atrever-me-ia a reconhecer a existência de duas cidades distintas. A tradicional e a artificial. A marroquina e a europeia. A muçulmana e a ateia.
De facto, para mim Agadir encarna o choque entre os valores ocidentais e os tradicionais àrabes. O problema parece ter sido resolvido com a criação de um "sector turístico", completamente ocidentalizado, super-patrulhado, onde o acesso é controlado aos próprios marroquinos e, infelizmente, onde Marrocos deixa de ter a sua identidade.
Cidade sobejamente conhecida pelo turismo de veraneio, foi com desilusão que constactei as semenhanças que partilha com as suas congéneres europeias. Hoteis, restaurantes, bares, discotecas, comércio...tudo profundamente ocidentalizado.
Na manhã seguinte seguiríamos para Marrakesh, via Essaouira, e o descanso faria falta para enfrentar a viagem.
Escolhemos um dos aparthoteis mais baratos e acabámos o dia com uma volta pela baía sob a imponente fortaleza, outrora, portuguesa.

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