 Apressámo-nos a tomar o pequeno-almoço na pousada. Pelas 10:00 estávamos a saltar para cima das motos, prontos para mais um dia de "verdasca", desta feita pelas terras do "Al-Gharb". O destino alinhavado para o dia era Monchique.
Apressámo-nos a tomar o pequeno-almoço na pousada. Pelas 10:00 estávamos a saltar para cima das motos, prontos para mais um dia de "verdasca", desta feita pelas terras do "Al-Gharb". O destino alinhavado para o dia era Monchique. Deixámos Alcoutim, junto às margens do Vascão, seguindo um estradão recente que nos levavia ao paredão duma nova represa.
Deixámos Alcoutim, junto às margens do Vascão, seguindo um estradão recente que nos levavia ao paredão duma nova represa.Poucos minutos depois alcançávamos, por mero acaso, a última zona espetáculo do Dakar em terras lusas. Inevitavelmente :) seguimos pela pista! As imagens seguintes dispensam comentários...






 Com o ânimo ao rubro :) perdi os colegas de "prova" e acabei por ficar à espera junto a mais um riacho, passagem que me pareceu boa para mais umas fotos ;)
Com o ânimo ao rubro :) perdi os colegas de "prova" e acabei por ficar à espera junto a mais um riacho, passagem que me pareceu boa para mais umas fotos ;)Esperei e desesperei, até que finalmente liguei e não tinha rede... continuei.
Já no topo da serra, lá apanhei rede e recebi a indicação do seu paradeiro: tinham perdido a pista algures e já estavam em Martim Longo. Apressei-me a ir ao seu encontro e abandonámos o imenso estradão-pista do Dakar. Seguiríamos então pelos verdadeiros trilhos da serra!
 Vários kilómetros depois andávamos já a desbravar a serra, sem quaisquer vestígios de presença humana, em direcção azimutal a ténues linhas pedonais marcadas em cartas com 25 anos... o resultado era, simplesmente, espectacular!
Vários kilómetros depois andávamos já a desbravar a serra, sem quaisquer vestígios de presença humana, em direcção azimutal a ténues linhas pedonais marcadas em cartas com 25 anos... o resultado era, simplesmente, espectacular! Por entre o mato alto, o ar puro perfumado com aromas de jasmim extasiáva-nos os sentidos; a cada curva, o contentamento de mais uma descoberta; no topo dos montes sucessivos, a inspiração de mais uma vista cortante...
Por entre o mato alto, o ar puro perfumado com aromas de jasmim extasiáva-nos os sentidos; a cada curva, o contentamento de mais uma descoberta; no topo dos montes sucessivos, a inspiração de mais uma vista cortante...

Até apanhármos caminhos fabulosos que serpenteavam pelos picos e vales do Caldeirão, num interminável carrosel de maravilha que nos cortava a respiração!


 Lugares paradisíacos e de difícil acesso, devido à providencial falta de caminhos ;), onde uma moto é o veículo de eleição para quem se quer aventurar!
Lugares paradisíacos e de difícil acesso, devido à providencial falta de caminhos ;), onde uma moto é o veículo de eleição para quem se quer aventurar!
E assim fomos progredindo atrás do Sol, alternando cumes onde a vista era espectacular, com vales magníficos onde só apetecia ficar e montar o acampamento! Que pena não podermos parar no tempo...

 O Sol já estava baixo e encontrávamo-nos novamente às portas da pista "dakariana", um pouco a sul do cabeço de Mú. O tempo escasseava e, se ainda almejávamos chegar a Monchique, teríamos de tomar um caminho rápido....
O Sol já estava baixo e encontrávamo-nos novamente às portas da pista "dakariana", um pouco a sul do cabeço de Mú. O tempo escasseava e, se ainda almejávamos chegar a Monchique, teríamos de tomar um caminho rápido....Com o alcatrão fora de questão, venha de lá o estradão! :)
A pista estava muito enlameada e escorregadia. Previam-se dificuldades para progredir por ali assim que o Sol se escondesse. O Nuno tomou a dianteira e eu fechei o pelotão.
Ainda não tínhamos feito 5Km na pista a bom ritmo... o Daniel, poucos metros à minha frente, entra mal numa curva muito elameada e escavada, perde o controlo da moto, caí desamparado contra a encosta pedregosa e começa a exclamar com dores!
Assustado, saltei da moto e corri para junto dele...
- "O que sentes, onde te doí?"
- "O braço... parti o braço!..."
- "Não te doi mais nada? As costas, o pescoço? Consegues-te mexer?"
- "Sim..."
- "Sentes-te bem?"
- "Sim..."
Retirei-lhe a moto de cima e apressei-me a chamar o 112.
- "Vou desmaiar..."
- "Não vais nada!" - e despertei-o enquanto o ajudava a imobilizar o braço.
Deitado no chão com dores, pediu-me a última coisa que pensei possível:
- "Tira-me uma fotografia... para se ver onde foi!"
Perplexo, tive que me render à sua insistência!...
 Após alguns minutos, ligam-me os bombeiros de Loulé. Expliquei-lhes onde estávamos e, azar, não era a sua jurisdição! Novamente liguei para o 112 e, desta vez, especifiquei claramente que deveriam encaminhar a situação para os bombeiros de Almodôvar.
Após alguns minutos, ligam-me os bombeiros de Loulé. Expliquei-lhes onde estávamos e, azar, não era a sua jurisdição! Novamente liguei para o 112 e, desta vez, especifiquei claramente que deveriam encaminhar a situação para os bombeiros de Almodôvar.Entretanto ajudámos o Daniel a levantar-se. A temperatura descia drásticamente e teria de se manter em movimento para não arrefecer demasiado. Já com peúgas e sapatilhas secas, lá começou a andar dum lado para o outro.
Entretanto, liguei para o seguro para accionar um reboque. Após a burocracia do costume, lá nos disseram que iriam enviar alguém para buscar a moto.
Obviamente, teríamos de arranjar forma de a colocar no alcatrão, mas isso era uma questão menor!
Não sabíamos bem qual era o estado da lesão do Daniel nem quanto tempo demoraria a ambulância a chegar, se é que conseguisse ali chegar!
Recebo, finalmente, a chamada dos bombeiros de Almodôvar. Combinei encontrar-me com eles no alcatrão para os orientar, junto à entrada do estradão. Peguei na moto do Daniel e fui ao seu encontro.
Assim que chegaram, deixei-a no alcatrão e enfiei-me na ambulância.
Lá fizémos, com alguma dificuldade, os 5Km pela pista fora até os encontrarmos.
O Daniel já se sentia nitidamente melhor a lá se enfiou na ambulância, junto com as suas bagagens, a caminho de Beja com "escala" no CS de Almodôvar.
 Entretanto a seguradora ligou para mais uma dose da sua adorada burocracia. O importante: assegurariam o táxi para levar o Daniel de Beja para Lisboa.
Entretanto a seguradora ligou para mais uma dose da sua adorada burocracia. O importante: assegurariam o táxi para levar o Daniel de Beja para Lisboa.Com o Daniel, já estamos mais descansados...
Passou mais de uma hora e nem sinal do reboque. No alto da serra a noite havia caído. Tínhamos os pés ensopados e estávamos a gelar.
Ligámos novamente à seguradora e fomos informados que já haviam despachado um reboque há meia hora e que já deveríamos ter sido contactados!
Estupefactos, aguardámos... ao frio.
Finalmente, contactaram-nos com a "novidade" de que o tipo se havia "baldado" e não encontravam nenhum reboque disponível na região... teria de sair um de Ourique.
Esperámos... e congelámos. Gelados, esperámos um pouco mais. Estávamos há quase 3 horas ao relento.
Naquele serão criogénico, descalcei as botas alagadas e desatei a correr no asfalto para ver se aquecia os pés um pouco...
Esperámos... e quando estávamos mais que fartos de esperar, esperámos um pouco mais.
Decidimos esconder a moto do Daniel e seguir uns kilómetros à procura dum café.
Encontrámos um a cerca de 6Km para sul. Já havia lá chegado a notícia duma ambulância que andava pela serra e duma moto parada junto ao asfalto, com a GNR ao lado! Parece que quando a ambulância chegou ao asfalto já lá estava a GNR, mas foram-se embora antes de nós chegarmos!
Impressionante... até já sabiam mais que nós!
Já nós estávamos a salivar com a possibilidade de despachar uma linguiça assada quando liga o motorista do reboque: "Estou aí em 20 minutos!" - Lá esquecemos a linguiça...
Regressámos ao local e aguardámos...
"ALELUIA! Lá vem ele! Só demoraram 4 horas!!..." - Estávamos alucinados...
Já devíamos ter zonas do cérebro petrificadas e o raciocínio já não era o melhor! Era só rir...
O motorista era um tipo jovem e cheio de vida! Alegremente, carregámos a moto enquanto sonhávamos com pés secos e quentes, comida gostosa e quente, cama confortável e quente, quente...
 O Daniel manteve-nos ao corrente da sua situação e, por volta da hora em que despachávamos a sua moto, já ele tinha tido alta do hospital em Beja com um diagnóstico mais animador: luxação do cotovelo. Séria mas, felizmente, não tinha nada partido.
O Daniel manteve-nos ao corrente da sua situação e, por volta da hora em que despachávamos a sua moto, já ele tinha tido alta do hospital em Beja com um diagnóstico mais animador: luxação do cotovelo. Séria mas, felizmente, não tinha nada partido.Ficámos bem mais tranquilos.
O motorista risonho, mecânico de profissão, também ele amigo do TT das 4 rodas, imediatamente começou a desbobinar as suas aventuras com o Vitara todo preparado... delicadamente, tivémos de o "enfiar" na cabina e "mandá-lo" para casa! Noutras circunstâncias seria uma boa companhia. Na presente situação, era um obstáculo entre nós e o "quente"!...
Observámos o reboque desaparecer na noite fria e decidimos rumar a sul, até Salir, em busca dum quarto para passar a noite. Pelo caminho parámos num restaurante-gasolineira para atestar a moto. Eram quase dez da noite. Mortinhos por atestar logo ali, também, o estômago, o proprietário não se mostrou muito receptivo à ideia...
- "Ainda têm alguma coisa que possamos comer?"
- "Umas sandes..."
- "Qualquer coisa quente...não se arranja? Restos de sopa?..."
Entretanto surge a esposa-cozinheira...
- "Ela é que sabe..."
Aplicámo-nos convictamente numa "choradinha" e lá se dispôs a cozinhar qualquer coisa. Serviu-nos bifes e batatas fritas, acompanhados por uma bela salada de alface e tomate. Soube-nos a manjar dos Deuses!...
Comemos afincadamente enquanto víamos, na Eurosport, o resumo do Dakar!
Satisfeitos, e mais quentes :), progredimos até Salir. Lá chegados não ficámos satisfeitos, decidimos continuar até Loulé. Lá teríamos mais escolha para alojamento.
Passava das 23:00 quando encontrámos uma residencial. Foi a escolhida pela sua qualidade mais evidente: foi a primeira que apareceu! :)
Instalámo-nos, lavámo-nos, aquecemo-nos e desvanecemos progressivamente num sono profundo, reconfortante, merecido... e quente.
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